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TJMSP realiza visita à exposição “Gordon Parks – A América sou eu” no Instituto Moreira Salles

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Categoria: Equidade Racial

Nesta quinta-feira (27), às 11h, servidores(as) do Tribunal de Justiça Militar do Estado de São Paulo participaram de uma visita à exposição Gordon Parks – A América sou eu, no Instituto Moreira Salles (IMS). A atividade organizada em virtude do Mês da Consciência Negra ofereceu a oportunidade de mergulhar no legado de um dos fotógrafos mais influentes do século XX, cuja obra articula arte, política e memória de forma visceral.

A mostra apresenta cerca de 200 trabalhos produzidos entre as décadas de 1940 e 1970, reunindo fotografias, filmes, periódicos e livros de Gordon Parks (1912–2006). Primeiro fotógrafo negro contratado pela revista Life, Parks foi responsável por registrar momentos decisivos da história dos direitos civis nos Estados Unidos, bem como cenas do cotidiano da população negra, que raramente eram retratadas com dignidade pela grande imprensa. Seus retratos de Malcolm X, Martin Luther King e Muhammad Ali, combinados a séries dedicadas à infância, ao trabalho e aos espaços urbanos, revelam um olhar atento à complexidade da vida de pessoas negras e ao impacto da segregação racial na construção do país.

Foto: Leandro Tresinari Grangeiro

Desde as primeiras obras, a exposição destaca a força política de sua fotografia. Uma das obras mais emblemáticas mostra Joanne e sua sobrinha, Shirley, bem vestidas para o domingo, posicionadas sob o letreiro luminoso que segregava entradas entre “pessoas de cor” e “brancos”. A imagem, captada em Mobile, Alabama, sintetiza a segregação racial institucionalizada que marcou os Estados Unidos entre 1877 e 1965, e aponta para a resistência cotidiana que emergia mesmo nos gestos mais simples: estar, ocupar, persistir. O texto curatorial convida quem visita a “ouvir” as imagens de Parks, entendendo-as não apenas como registros, mas como práticas de recusa ao apagamento.

Outro destaque da mostra é o conjunto dedicado à Marcha para Washington, de 1963. Com mais de 250 mil participantes, o ato marcou a história do movimento dos direitos civis e precedeu a aprovação da Lei dos Direitos Civis de 1964, que pôs fim à segregação legal nos EUA. Parks registrou o evento para a Life, lado a lado com outros fotógrafos históricos, acompanhando o discurso “I have a dream” (“Eu tenho um sonho”) e o esforço de Martin Luther King por uma luta não violenta e integradora.

A exposição dedica também uma seção ao boxeador e ativista Muhammad Ali, fotografado por Parks entre 1966 e 1970. As imagens revelam o carisma, a postura desafiadora e a dimensão política de um atleta que enfrentou a supremacia branca, recusou-se a lutar no Vietnã e pagou caro por essa decisão. Ali sintetizava sua resistência com uma frase que ecoa pela sala: “Eu sou a América. Sou a parte que você não vai reconhecer. Mas se acostume comigo.”

A relação de Parks com o Brasil também aparece na mostra, com sua vinda ao Rio de Janeiro em 1961 para documentar a vida da família Da Silva, moradora de uma favela carioca. O material ganhou destaque na Life e desencadeou ações humanitárias que mudaram o destino da família. O episódio provocou repercussão internacional e motivou a revista O Cruzeiro a enviar um fotógrafo aos EUA, numa cobertura que espelhava a miséria de Harlem — material que acabou revelando o contraste entre dois países marcados por desigualdades profundas. Durante a documentação do cotidiano da família, Parks dirigiu seu primeiro filme, Flavio (1964), hoje reconhecido como parte da história do cinema da diáspora negra.

O Teste das Bonecas: um ponto de inflexão na história da infância negra

Entre as seções mais marcantes da visita, o Teste das Bonecas se destaca como reflexão central do percurso do TJMSP no IMS. Fotografado por Parks em 1947, o experimento foi conduzido pelos psicólogos Mamie e Kenneth Clark com o objetivo de avaliar os efeitos da segregação racial na autoestima de crianças negras.

Foto: Leandro Tresinari Grangeiro

Diante de bonecas com características idênticas, uma negra e outra branca, as crianças eram convidadas a apontar:
– “Me dê a boneca bonita.”
– “Com qual você quer brincar?”
– “Me dê a boneca que parece má.”

Nos resultados, crianças negras associavam atributos positivos à boneca branca e características negativas à boneca negra. No final, quando perguntadas qual delas se parecia com elas, respondiam à contragosto que eram semelhantes à boneca negra — como se aceitassem inconscientemente as projeções negativas. O experimento se tornou peça-chave no julgamento Brown vs. Board of Education (1954), decisão histórica da Suprema Corte norte-americana que determinou a integração escolar nos EUA.

A força da série está justamente na maneira como Parks ilumina o impacto psicológico do racismo na primeira infância. Suas fotos convocam cada espectador(a) a perceber como a sociedade molda a percepção que cada criança faz de si mesma.

Segundo Gustavo Badilho, “É impossível passar pela exposição sem sentir o peso das histórias. A dor retratada nas imagens é real e ainda presente. Por isso mesmo, vale a visita: a obra de Parks torna visíveis camadas profundas do racismo e nos aproxima de discussões indispensáveis no Brasil”.

 

Uma experiência de formação e sensibilidade

A visita permitiu ao Tribunal vivenciar uma discussão que, embora situada majoritariamente no contexto estadunidense, ecoa nas desigualdades brasileiras e no compromisso da Justiça com a equidade racial. Ao acompanhar o percurso curatorial, o grupo pôde refletir sobre como a produção de Parks continua atual ao denunciar a violência estrutural, afirmar a humanidade de pessoas negras e desafiar a naturalização das desigualdades. A exposição é gratuita e permanecerá em cartaz no IMS até 1º de março de 2026.

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